Segunda-feira sempre me pareceu um dia que não foi feito para o trabalho. Definitivamente. Tudo, tudo, tudo parece mais atrativo do que a pauta. Anteontem não foi diferente... Dias chuvosos são a oportunidade perfeita pra pensar em um bocado de coisas pouco importantes.

Essa segunda, eu e um amigo resolvemos que iríamos filosofar sobre assuntos esquisitos, no estilo de: De onde viemos? Para onde vamos? Deus existe? O que nos tornaria cidadãos imortais? O que eternizaria uma música?

Bom, o papo foi longe... O bastante para darmos risada de traduções infelizes (vide Astronauta de Mármore – Nenhum de Nós) e para compartilhar uma teoria que eu já tinha faz tempo. Que aqui está:

Quem aí nunca quis ter um cachorro? Com raríssimas exceções, todo mundo já quis muito um focinho para levar correr no parque, para fazer carinho na barriga, para jogar uma bolinha ou uma varinha looonge e o animalzinho ir correndo, buscar e entregar na sua mão... E quando nós queremos muito uma coisa, seja ela qual for, ficamos cegos e burros!

Com cachorros, é claro, não seria diferente. Nenhum cachorro no mundo é mais engraçadinho do que aquele que escolhemos para ser nosso. Nenhum é mais inteligente, mais fofo, mais educado, mais alegre. Nenhum. Nada nos fará mais feliz do que aquele cachorrinho correndo pelo pátio, atraindo olhares dos vizinhos, ajudando-nos a fazer amigos novos, brincando, nos esperando na porta ao voltarmos do trabalho com um rabinho insistente, pedindo comida junto à mesa, implorando com aquela carinha linda “pidão”, passando mal de tanto comer, vomitando na nossa cama, sujando nosso tapete, roendo nossos sapatos ou mesmo roubando nossos suéteres para usar de cobertor.

A partir daí, entendemos que algumas coisas ruins fazem parte das coisas boas... A velha história do equilíbrio. Aceitamos o fato de que para termos o bichinho, precisamos levá-lo ao veterinário, ao pet-shop, banho, tosa, passeio, e mais um monte de outros cuidados. Nada importa. Nenhuma nova tarefa é trabalhosa o bastante para fazer-nos desistir dele, afinal, ele é perfeito e vale a pena! Propomo-nos a cumprir todas elas e pronto: adotamos um cachorro!

Aquele sentimento paternal (ou maternal) encarna em nós. De um dia pra outro, queremos sair mais cedo do trabalho para ir correndo cuidar daquele filhote que chora a solidão em casa. É adorável o ver feliz com a nossa presença. Cada momento é especial. Acho que o cachorro é o ser que mais nos faz sentir especiais no mundo. Ele está lá, na dele, nos amando... de graça! Amor de graça. Parece perfeito!

Com o tempo, o cãozinho passa a ser rotina... Sair para passear com ele em dias de chuva já não é mais tão bem aceito como era antes. A sujeira no tapete, as cadeiras roídas, os 32 suéteres rasgados que ele roubou da pilha de roupas para se esquentar (e talvez até para se sentir menos sozinho, pois pelo menos estaria com a companhia do nosso cheirinho na malha...)... Tudo isso perde o encanto. Aos poucos vamos descobrindo que adotar um cachorro tem toda a sua beleza, mas é claro, tem toda a sua dureza. De saco cheio, acabamos relaxando. Ao chegar em casa e ver a cauda frenética e cheia de alegria, respondemos apenas com um breve afago na cabeça: “bom menino”. E a vida segue.

Amamos muito aquela bola de pêlos. Mas também amamos muito a nossa vida, nossos amigos, nossa família, nossos hobbies, nosso momento de querer ficar sozinho, de sair pra balada. Amamos viajar, amamos decidir passar uma noite fora sem precisar documentar e providenciar tudo. Não só uma noite, quem sabe um dia? Um final de semana?

Amar, adotar e cuidar traz consigo uma carga inteira de responsabilidades. E não cumprirmos com tais responsabilidades nos deixa tristes, principalmente por saber que estamos ferindo os sentimentos de outro serzinho que de nada tem culpa por não termos tempo para dedicar a ele. É cruel sairmos de manhã cedinho para trabalhar, aí já emendamos um almoço fora de casa, mais umas cinco horas de trabalho, happy hour. UPS! Já são 21hs e nem sinal de vida no lar. Independente do que aconteça, quando voltarmos, a reação vai ser sempre a mesma. Aquele momentinho de felicidade que foi esperado o dia inteiro pelo nosso amiguinho chegou. E não vai durar mais que 30 minutos.

Depois desse relacionamento com nosso estimado cão, criam-se as hipóteses:

I. Ficamos muito tristes. Como antes já foi dito: o amamos muito. Adoramos a sua companhia. Ele é um ser fantástico e especial e faz sentirmos como se fossemos únicos. Parece perfeito. Mas pelo sentimento ser tão grandioso, preferimos deixar o egoísmo de lado e procurar outra família para ele. Quem sabe com crianças... Mais tempo para brincar, mais espaço, mais liberdade. Amamos tanto, que preferimos vê-lo bem e livre. Não preso em uma casa pequena à espera de umas migalhas de carinho. Ficamos feridos, “órfãos”, mas no fundo sabemos que é o melhor.

II. “É só um cachorro” (acho que esse é o pensamento mais comum). Continuamos com ele, nessa situação. Ele não reclama mesmo, não é? Recebe comida, abrigo até obedece quando ordenamos: “Toby, senta”. Deve adorar essa vida... Mordomia...

III. Mudamos nossos hábitos. A quem merece, seja dado o devido cuidado. Passamos a incluir ele na nossa vida como parte importante, cuidamos, damos carinho. Afinal, se o adotamos e assumimos a responsabilidade, não passa da nossa obrigação. Salvo alguns casos, isso só acontece depois de uma doença ou algo do gênero que nos ameaça a perder o companheiro pra sempre. Aí tentamos consertar os erros para que não passemos nos culpando o resto da vida por não termos aproveitados bons momentos por apenas julgarmos não ter tempo.


Hoje, se não tivesse a Lila, não sei se iria querer ser responsável por outro cãozinho... Ter cachorro em casa é ótimo, fantástico. Mas ser cachorro, dentro de casa, não deve ser tão fantástico quanto... Sempre defendi os gatos, inteligentes, independentes e cheios de personalidade. Sabem se virar com ou sem você. Defendem-se, pedem e oferecem carinho, mas a hora que bem entendem. Para ter um gato, é preciso ter também sintonia, compreensão e respeito. Mas claro, ter cachorro é mais fácil: não precisa pensar no outro. Afinal, você que manda!

Eu mesma já fui muito Beagle nessa vida... penso que é hora de ser um pouco mais Bengal...

2 retalhinho(s) costurado(s):

mari disse...

tô pensando em fazer um blog tbm...
eu penso tanto mesmo ueheuheuhe

(L)

Anônimo disse...

Que post fantástico! Essa teoria... é muito verdadeira.
Te digo, sejas Bengal. Ame você e tenha o seu momento.

Ps: por culpa de doenças respiratórias, não posso ter um cãozinho... Ame o seu por mim :(

Postar um comentário