Meu Joelho Juvenal

O Joelho Juvenal

Era uma vez um joelho
Que se chamava Juvenal.
Juvenal tinha um problema,
Coitado:
Vivia todo escalavrado.
Também, quem mandou
O Juvenal ser joelho
De um menino levado?
Juvenal queria muito
Aprender língua de menino
Só pra falar assim:
“Menino, tem dó de mim!”
Mas,
Quando o esfolado sarava
Juvenal bem que gostava
De correr e de saltar.

E ficava muito atento
Conversando com o pé
(Pois joelho e pé se falam):
- Cuidado aí, companheiro!
Pode ser que no meio do caminho
Tenha uma pedra, tenha uma
Pedra no meio do caminho...
...E aí,
Você tropeça
E quem vai sofrer
Sou eu.
Mas, não adiantava nada!
O pé sempre tropeçava
E lá ia o Juvenal
Outra vez pra enfermaria!
Imaginem o Juvenal
Em que estado
Ele estava
Quando as férias acabavam!|

Mesmo assim,o Juvenal
Gostava muito da vida,
Do vento ventando nele,
Quando o menino corria,
Todo feliz pelo mundo.

(ZIRALDO)





Quem foi meu colega de pré-escola, aposto que também lembra deste texto muito bem!

A questão é que, contrariando todas as segundas-feiras, hoje o dia começou bonito (levando em consideração o que havia acontecendo com o tempo caxiense...) e de bom humor! Oito horas, ninguém mais em casa (isso também não é usual...). Maravilha!!! Ninguém dormindo pra atrapalhar. Pega o rádio. Leva o rádio pro banheiro. E, ótimo! Toma banho ao som de James Morrison – Wonderful World (entre outras, claro...). Coloquei minha “cueca da sorte”: Wonder Woman. E não basta usar, tem que acreditar! Vesti, acreditei! Hoje sou a mulher maravilha! Foi, então, que decidi que o dia hoje vai ser bom! Vou tentar deixar a depressão pra semana que passou!

Antes de acabar de me vestir, dei uma analisada profunda no puta-raspão do meu joelho/perna/pé. E claro, fiquei ali, cutucando. Sempre faço isso... Alguém aí também tem a mania de NÃOCONSEGUIRVERUMACASQUINHADEFERIDA sem mexer? E normalmente, quando mexe, fica ainda mais “escalavrado”. Sangra, machuca mais e leva mais tempo ainda pra cicatrizar.

Não vou generalizar, mas falo por mim: eu cutuco casquinha de ferida por um único motivo: A ANSIEDADE. Sou ansiosa para que cicatrize, passe e eu logo trate de esquecer que tenho joelhos, até me espatifar no chão e ralar eles de novo. Aí vou lá, fico mexendo, dia sim, dia não. Só esperando que por debaixo da casquinha, tenha um joelho sadio e sorridente, pronto pra outra! Não é sempre que isso acontece... Aliás, quase nunca. Normalmente, “fuçar” só prolonga a dor e o incômodo. Nem por isso a gente aprende.

Aí, continuando a viagem, na minha cabeça veio uma lembrança de um trabalho de aula que tive que fazer ano passado (esse a Gabi vai lembrar!): “Ferimentos cobertos cicatrizam até 3x mais rápido, e o melhor: Sem deixar marcas!” Alguém aí sabia disso? Não, né? Exceto a Gabi, que também fez esse trabalho... Pois é, segundo estudos da Johnson & Johnson - Band Aid, deixar o “ferimento à mostra”, usando a desculpa de que assim ele “seca mais rápido”, logo, fica bom também mais rápido, não é verdade. Bom mesmo é deixar protegidinho de bichinhos malvadinhos que estão no ar, no tecido, na roupa, etc. e vão só piorar a recuperação. Legal! Peguei um super band-aid e pronto, tapei tudo! Não tenho certeza de que vai funcionar, afinal, na troca de band-aid, terei que me controlar! Mas... tentamos, não é?

Então, criei uma teoria sobre o uso dos band-aids: Você esconde o machucado. Não só dos bichinhos malvadinhos muah-há-há, como também de si mesmo. Sem ver, sem tocar, sem fuçar, você esquece... Lógico que seu machucado vai escafeder mais rápido se você não ficar ali, em cima, atrapalhando... Mas esquecer é tão difícil... mas tão difícil, que eu só esqueço de coisas importantes (como o livro da biblioteca)... e pra essas coisas idiotas (como ralões de joelhos), sempre preciso de uma ajudinha.

Aí, cito Ziraldo e o seu texto do Joelho Juvenal. Todo mundo tem um Joelho Juvenal ou É um Joelho Juvenal. Meus dois joelhos são Juvenais, muito Juvenais. Quem mandou serem joelhos de uma menina estabanada! E eu também, sou muito Juvenal. Um Juvenal que detesta se machucar, mas que adora o vento ventando e aquele quê de perigo em correr rápido demais, ignorando os paralelepípedos soltos ou os barrancos nas calçadas.

4 retalhinho(s) costurado(s):

LU disse...

Laura joelhinho de retalho!!! Segundo Chico Buarque, voce devia virar uma bailarina...

"Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem."

(Laura sorri.)

Samuel Rodrigues disse...

Adoro Ziraldo. Me lembro de olhar pra capa daquele livro do Menino Maluquinho "Outro Como Eu Só Daqui a Mil Anos" e pensar: "bah... que nem eu também..."

e sempre dizem que bebê quando nasce tem cara de joelho... as vezes a gente gosta de relembrar essa época!

Anônimo disse...

Meu joelho não é Juvenal, será que eu vou ser mais feliz se ele for?

Lula Sonego disse...

Se vai ser mais feliz, não sei... Mas que vai ter mais histórias pra rir (e fazer rir) da própria desgraça, com certeza vai!
Mas sou boba, me orgulho de cada uma das minhas cicatrizes... No fundo, até gosto de ser estabanada e viver caindo... Chega a quase ser um traço de personalidade! ahaha
Cicatriz, querendo ou não, é marca de vida! Só não tem cicatriz quem nunca se arriscou...
;o)

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